Esta semana, tivemos o gosto de entrevistar Paulo Monteiro, Diretor de Responsabilidade Social e Corporativa da Auchan, Retail Portugal.
Fale-nos um pouco sobre o seu percurso e missão no Grupo Auchan. Que tipo de projetos tem desenvolvido?
Estou na Auchan desde 2005 e sou diretor de Responsabilidade Social e Corporativa na Auchan em Portugal.
Estou envolvido em três grandes áreas de intervenção: a Responsabilidade Social, o Meio Ambiente e a Saúde.
No que toca à Responsabilidade Social, estabeleço projetos com a comunidade relativamente a doações, desperdício alimentar, projetos de sustentabilidade, compromisso da Auchan com os objetivos de desenvolvimento sustentável, voluntariado corporativo, etc.
Relativamente à área do Ambiente, estamos focados em tudo o que tem a ver com as questões de certificação e auditoria ambientais.
Quanto à área da Saúde, tenho sob minha responsabilidade o Programa de Vida Saudável da Auchan, que obviamente está muito concentrado na área da nutrição.
A Auchan é predominantemente uma insígnia do retalho alimentar e este programa desdobra-se em várias iniciativas, começando pela sensibilização dos clientes para hábitos alimentares saudáveis. Temos um site com vídeos, receitas, dicas e muitas informações.
Os nossos produtos de marca própria apresentam, na embalagem, um sistema que é o Nutri-Score o qual, através de um conjunto de 5 letras e 5 cores, permite sinalizar produtos processados e ver qual o mais equilibrado nutricionalmente. Este sistema já é adotado por sete países europeus.
Em Portugal, as autoridades não se pronunciaram ainda sobre a matéria, mas a Auchan desenvolveu esse código como forma de facilitar o processo de compra dos clientes.
A Auchan desenvolve parcerias com várias associações e instituições com vista a reduzir o desperdício, ajudando assim algumas famílias mais necessitadas. Com a pandemia em 2020, como ficou toda esta dinâmica entre a Auchan e as várias parcerias?
Sim, nós trabalhamos com mais de 150 associações a nível nacional. Temos uma parceria com a Zero Desperdício que é um elemento facilitador no retalho. Trabalhamos também com associações locais, a Refood, a Cruz Vermelha, To Good To Go etc. Estas instituições fazem chegar a famílias carenciadas as doações alimentares.
Com a pandemia verificou-se um contexto com duas tendências que se auto anularam de certa forma. Por um lado, é verdade que aumentaram as necessidades e fragilidades, por outro lado, fruto dos processos de isolamento, muitas associações de base voluntária viram reduzida e limitada a sua capacidade de intervenção. Muitos voluntários ficaram isolados e isso restringiu as doações. Houve um grande esforço para encontrar alternativas, através IPSSs, de autarquias que desempenharam um importante papel para suplementar outras instituições de carácter voluntário. Mas posso dizer-lhe que em 2021, as doações para alimentação humana foram de 2 300.000 €.
Falando em questões de sustentabilidade e meio ambiente, sabemos que a Auchan está integrada em projetos com vista a reduzir significantemente a pegada de carbono. Quais têm sido as principais ações da Auchan neste sentido?
Numa atividade como é o retalho alimentar, a pegada de carbono deriva de 3 fontes principais.
Desde logo a energia que é utilizada nos hipermercados, os gases de refrigeração, o ar condicionado, enfim a energia indispensável para o funcionamento das lojas.
O retalho alimentar é uma atividade que se baseia numa cadeia de abastecimento intensa. Todos os dias há inúmeros veículos a chegar e a partir da nossa plataforma logística de Azambuja. Os transportes são a segunda grande fonte de emissão de dióxido de carbono.
E a terceira, e mais importante, fonte está relacionada com os produtos que vendemos nas nossas lojas. Os mais processados e que vêm de mais longe, ou por via marítima ou aérea, têm obviamente uma maior pegada de carbono.
Podemos acrescentar uma quarta fonte, que é o desperdício. Todos os produtos que não se conseguem vender ou doar têm de ser destruídos, o que também contribui naturalmente para a pegada de carbono.
Posso dizer-lhe que 100% da energia que a Auchan utiliza é energia verde, compramos apenas energia verde. Já utilizamos painéis fotovoltaicos, como fonte de energia alternativa, quer na nossa sede, quer na loja em Paço de Arcos.
No que diz respeito aos transportes, desenvolvemos processos de otimização das rotas, de forma a diminuir os quilómetros percorridos.
Por outro lado, ao nível dos produtos, embora uma parte significativa da pegada de carbono não dependa apenas de nós (mas também dos produtores e dos seus métodos), tentamos muito intervir naquilo a que chamamos de economia circular.
É tentar por um lado diminuir o mais possível os produtos desperdiçados e fazê-lo através de parceiras com entidades, como a Too Good To Go, no sentido de aproveitar os produtos perto do fim de validade.
Em simultâneo aproveitamos e criamos novos produtos a partir de outros.
Por exemplo, as bananas são dos produtos que geram mais desperdício. Reaproveitamos as bananas muito maduras para produzir um bolo de banana vegan à venda nas nossas lojas. Um outro produto que gera desperdício é o pão. O pão que sobra é reconvertido em pão ralado e tostas. O mesmo acontece com as aparas do talho que reconvertemos para alimentação animal. Os donos de cães têm assim a possibilidade de comprar carne fresca e de qualidade para os seus animais. Estamos a disponibilizar as borras de café que resultam da atividade das nossas cafetarias a produtores locais que as utilizam para enriquecer os solos.
Portanto, também através da redução do desperdício, tentamos diminuir a pegada de carbono.
No âmbito dessa estratégia de economia circular da Auchan, como têm feito para reduzir o uso de plásticos?
Quanto ao plástico, disponibilizamos sacos reciclados e temos o objetivo até 2025 , de 100% dos nossos sacos serem recicláveis, reutilizáveis e compostáveis.
Todo o plástico que utilizamos nas nossas lojas é recolhido por uma empresa que utiliza essas embalagens para produzir sacos reciclados.
Lançámos uma linha de produtos de cozinha, copos, pratos e talheres feitos a partir de amido, celulose, melamina, materiais naturais para substituir o plástico.
Esse é outro grande desafio que se coloca e com o qual estamos fortemente comprometidos.
Avançámos com uma medida bastante interessante que é o cliente poder levar o seu próprio recipiente de casa para ir buscar comida já feita nas nossas lojas, admitindo claro que o recipiente tem as condições higiénicas adequadas.
Como aconteceu o seu contacto com o HubsLisbon Azambuja?
Tudo começou a propósito do apoio aos refugiados ucranianos, através da Camara Municipal de Azambuja.
A Câmara Municipal tinha indicação de que iria receber aproximadamente 150 refugiados e precisava de artigos têxtil-lar, roupa de cama edredons, etc. Por isso, contactou as estruturas da Auchan em Azambuja até que a solicitação chegou até mim.
Foi uma situação que ganhou alguma singularidade porque uma noite, pelas 22:00, disseram-me que os refugiados chegariam logo no dia seguinte e, portanto, tivemos que tratar de tudo em poucas horas. Inclusivamente, tivemos que contactar o nosso fornecedor em Guimarães que de forma generosa, no outro dia de manhã veio diretamente a Azambuja entregar os 150 edredons. Conjugou-se um conjunto de muitas ‘’boas-vontades’’ e conseguimos entregar 150 jogos de cama e 150 edredons para equipar as camas no pavilhão em Vale do Paraíso.
Foi realmente gratificante.
Ficam ainda um link com a posição da Auchan sobre a poluição pelos plásticose um outro com a entrevista concedida ao blog 'Pegada verde' sobre as temáticas da Sustentabilidade e inclui muitos dados concretos sobre as políticas da Auchan.
Vale a pena ler.
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